Se eu pudesse definir um sentimento que permeia este ano de 2021, eu escolheria ESPERANÇA. A esperança do reencontro, do retorno à escola, do barulho da rotina.
Foi assim que começamos o ano: nova composição de grupo, crianças recém-chegadas à Maré, na esperança de um ano de vitórias e desafios. Como professora, meu coração vibra por acompanhar diariamente e conhecer cada criança deste grupo.
Todos retornaram das férias cheios de vida e de histórias para contar. Foi especial perceber o quanto cresceram, com notáveis mudanças reveladas na troca dos dentes, nos centímetros a mais em suas estaturas e nos jeitos que encontraram para lidar com a situação da pandemia.
Os papéis logo foram assumidos. Os mais velhos tomaram para si a função de liderança e acolhimento aos que estavam chegando. Apresentar a floresta, ensinar o manejo e a utilidade das ferramentas foram as primeiras tarefas realizadas com empenho e afinco por todo grupo.
Nosso começo de semestre foi repleto de atividades coletivas e integradoras: brincadeiras cooperativas na quadra, apropriação de espaço, tabela dos banguelas, práticas que ajudaram na integração do grupo, como também, no conhecimento das aptidões individuais que poderiam agregar aos desafios coletivos.
Após a constatação de que as crianças estavam integradas e que já se reconheciam como grupo, o passo seguinte foi avaliar as diferentes competências para então gerar desafios diversos.
Para contemplar as áreas de conhecimento e pensamento crítico, realizamos pesquisas de interesse coletivo, que partiram da curiosidade e percepção dos processos da Natureza no ambiente escolar. Ao encontrar uma lagarta pendurada num fio, as crianças levantaram hipóteses, buscaram fontes de pesquisa e aprenderam também sobre o bicho da seda; o excesso de lagartas em nosso jardim, levou-nos ao desejo de aprender sobre ciclo da vida das borboletas e mariposas. Neste estudo também conhecemos a importância das plantas hospedeiras para estes insetos.
Da observação e registro do processo de metamorfose das borboletas, o grupo percebeu mofo no Lagartário. Demos início a um estudo mais aprofundado sobre o Reino Fungi. A floresta foi nosso laboratório! Amostras de cogumelos foram coletadas e analisadas no microscópio. As crianças ficaram encantadas!
Estes estudos possibilitaram a aquisição de conceitos e conteúdos nas diferentes áreas de conhecimento. O aprendizado aconteceu de forma significativa, pois provocou no grupo ações de investigação, registro, sistematização, argumentação, troca e colaboração. Cada um de seu jeito, de acordo com seu desafio participou destes processos tão importantes para a construção do conhecimento.
Considerando o cuidado do corpo e da mente, os encontros de Yoga e Educação Física foram imprescindíveis e interdisciplinares. As crianças foram estimuladas a olhar para si e para o outro. Princípios de cuidado, empatia, respeito foram vivenciados em nossa rotina. Por meio dos Quatro Elementos da Natureza, a professora Paula tocou a alma das crianças com exercícios de respiração, auto regulação e percepção dos sentimentos. A Hevelini ampliou a percepção do corpo físico: observar o desenvolvimento do próprio corpo, criar possibilidades de movimento, cuidar da alimentação e conhecer diferentes modalidades de esportes. Estas foram as práticas trabalhadas durante o semestre que ao mesmo tempo que instigaram a expansão, a euforia, também trouxeram referências de inspiração, criação e meditação.
Com o objetivo de ampliar o repertório cultural, o professor Rubão trouxe para o grupo o Folguedo do Cavalo Marinho. Os diferentes personagens, as batucadas e a diversidade de instrumentos garantiram a valorização da diversidade cultural existente no Brasil. Além disso, nos encontros coletivos fizemos o resgate histórico acerca dos povos originários e povos africanos os quais nos deixaram a rica herança das mais diversas manifestações culturais.
A proposta da Literarte realizada a cada semana pela Regina, desafiou as crianças com a diversidade de narrativas e linguagens. Nestes encontros foram acessadas as áreas de linguagem verbal, escrita e visual. As crianças também puderam criar histórias, envolver-se pela linguagem poética, como também expressar desenhos coloridos e vibrantes em seus registros.
A Cátia trouxe de um jeito divertido a aquisição de novas palavras em Inglês. O Workshop oferece diversidade, cooperação e conversa livre ao desafiar as crianças na comunicação e compreensão de um segundo idioma.
A pandemia levou-nos a praticar mais um semestre de ensino remoto. Para as crianças, os desafios compreenderam momentos de pesquisa, estudo, apreciação estética e aquisição de habilidades tecnológicas. Os encontros aconteceram coletiva e também individualmente, com foco nas especificidades e necessidades de cada criança. Sabemos o quanto é desafiador para as crianças manterem-se interessadas e concentradas na interação virtual. Atitudes e conversas sobre paciência, generosidade e respeito, vieram para a roda. Encerramos o semestre com as crianças felizes, brincalhonas e vencendo os desafios trazidos pela pandemia.
Devido à alta exposição diante das telas, somada ao tempo restrito na escola, percebemos a necessidade de vivências práticas de FAZER, realização e trabalho ao ar livre, na Natureza. Foi então que surgiu o projeto com a hashtag “Eu não me distancio da natureza”. Nosso objetivo foi provocar as famílias para práticas constantes de interação com os processos e fenômenos da Natureza. Cada família foi convidada a registrar seu “momento verde”, para então compartilhar e inspirar a comunidade Maré. Como bem disse uma das famílias que apresentou sua rotina: “NÓS SOMOS A NATUREZA!”
Encerramos o semestre resgatando nossos desafios, vitórias, durante esta trajetória. Olhar para o planeta com a perspectiva das crianças, muito nos encoraja e nos movimenta. As crianças deixam o ensinamento de que a VIDA pulsa, a NATUREZA encanta e que a ESPERANÇA traz alegria. Celebramos os festejos, a chegada da vacina, a escola cheia de cores e flores, nossos fazeres repletos de significado e afeto. Agradecemos a parceria desta comunidade, que assim como nós acredita na coletividade, no respeito e na busca pela resolução de problemas.
Abraços esperançosos,
Professora Karina SILVA