Uau! Que semestre intenso!
Ao final do mês de junho, escrevi sobre o quanto estava tocada pelo sentimento de esperança. Hoje, ao sentar para escrever e pensar no que fizemos nos últimos meses, percebo que a esperança trouxe a realização.
O cenário que tínhamos no início do ano era de aulas remotas com poucas crianças frequentando a escola. Carregávamos a esperança de que um dia veríamos nossa Maré cheia de movimento e barulho novamente.
O mês de agosto trouxe o retorno total das crianças para o chão da escola. Que alegria sentimos ao vivenciar este reencontro! As crianças expressavam força e potência para realização, para as descobertas e para os aprendizados.
Nosso grupo fluiu assim como a água. Intenso, abriu caminhos e juntou-se a outras gotinhas. O primeiro desafio foi a integração e construção de vínculos no novo agrupamento que se formou. As crianças tinham em comum a vontade de resolver problemas. Uniram-se. Olharam para o próprio entorno e perceberam a necessidade de resolução. A rampa que dá acesso à caixa de areia foi pauta da assembleia e mobilizou toda a escola a participar da resolução. Instalamos antiderrapante, achamos que o problema estava resolvido e constatamos a necessidade de pensar numa nova solução. A solução foi o envolvimento, o assumir responsabilidade, o cuidado mútuo. Foi lindo!
Entendemos a necessidade de conhecer mais sobre as abelhas nativas do Brasil. Aprendemos que estas abelhas não têm ferrão e desconstruímos o senso comum de que todas as abelhas são iguais. O meliponicultor André compartilhou seu conhecimento com as crianças, que logo desejaram ter uma colmeia na escola. Esta realização trouxe para as crianças a mobilização de fazer placas e contar para todos o que aprenderam. Também compreenderam a importância destes insetos polinizadores para a floresta e para o planeta como um todo.
Resgatamos o desejo antigo de captar água da chuva. Como fazer isso? Falar de Cisternas para crianças? Como despertar esse desejo nelas também? Passamos a estudar sobre os caminhos da água. Sobre a vida que está presente numa pequena gota. Sobre “fazer” água.
Como um rio sinuoso e intenso, fomos para as nascentes, passamos pelas florestas, pelas árvores, pelo solo, pelas nuvens. Cruzamos a cidade, entendemos como a água chega até nossa casa, nossa escola. Olhamos para a chuva, para nosso telhado. As crianças uniram-se a nós neste desejo. As brincadeiras expressavam essa fluidez. A pergunta que mais ouvimos foi: “Pode pegar água?”… Baldes e baldes foram despejados nas curvas construídas, na “fábrica de rio”, nome dado pelas crianças.
A brincadeira nos levou à compreensão de que elas estavam prontas para realizar. Na brincadeira, as crianças falam. Na brincadeira, os adultos “ouvem” estas falas.
Para executar um projeto tão complexo, pedimos a ajuda do engenheiro. O Paolo nos ensinou muito! Aprendemos sobre distância, capacidade e comparamos medidas. As crianças ficaram encantadas ao conversarem sobre a força da gravidade! No campo da expressão, as crianças vivenciaram diversos desafios de trabalho em grupo, transitaram por campos de atuação, seja como escribas, como mediadoras ou como controladoras do tempo. Todas estas dinâmicas trouxeram possibilidades de discussão, argumentação e troca de saberes. Foi possível trazer para o grupo educação financeira. O dinheiro trazido por elas foi calculado mês a mês. A cada desejo, necessidade e aquisição, fazíamos a consulta do nosso orçamento. Algumas crianças até pediram desconto nas compras dos materiais!
O semestre encerra com realizações! Bom é olhar o processo e a fluidez deste “rio”. As crianças estão felizes! O rio desagua no oceano. A potência da Maré faz-se presente num vai-e-vem em unidade com o todo. “E depois?” Pergunta uma criança. Depois a gente segue remando e agrega mais marolinhas para esta Maré. Vamos juntos?
Abraços,
Professora Karina Silva