Nosso país tem sérios problemas na Educação. Entre eles cito: a cultura escolar elitista, a falta de visão estratégica, a desinformação da sociedade, interesses corporativistas, fracasso e evazão escolar, despreparo de professores e ainda a baixa qualidade de ensino. Reconhecer esses problemas é o primeiro passo para a mudança. Um primeiro passo de um longo caminho, mas que garante a perspectiva da busca por soluções.
Há escolas e professores com uma indignação pungente que utilizam novas práticas, que refletem, que se movem e comovem, que se unem e reúnem em nome de uma educação democrática, libertária e criativa. A necessidade do apoio das comunidades é grande. A divulgação das propostas inovadores, que oferecem luz à questão é uma possibilidade de ajuda.
Vale contar a experiência vivida por quatro brasileiros que viajaram por nove países para conhecer centros de aprendizagem avançados. Essa história rendeu o livro “Volta ao mundo em 13 escolas” que será lançado em outubro, e tem por objetivo “alargar horizontes”, como define o jornalista André Gravatá, usando uma expressão do escritor Manoel de Barros.
O foco no vestibular e na competitividade de um suposto futuro profissional é a grande distorção que impede o fluxo da renovação que vem surgindo. A partir do momento em que se decide não sistematizar um método de trabalho, mas sim fazer com que as crianças construam espontaneamente o aprendizado, surge uma nova maneira de educar. Educar para a vida e para o hoje é permitir que o conhecimento seja realmente construído.
Precisamos sair da questão de dificuldade de aprendizagem e olhar para a dificuldade de “ensinagem”. Só podemos ensinar aquilo que desejam aprender, o resto é memorização e não aquisição de conhecimento. De nada valem os conteúdos programáticos sem o interesse do aluno. Esse sujeito a quem chamam de estudante, não deseja estudar, visto que o que o que querem lhe incutir cognitivamente não lhe desperta interesse. Esse sujeito, que merece o respeito de todos, cuja curiosidade deveria ser mantida, precisa ser visto como um aprendiz!
A diferença entre estudar e aprender traz respostas em si mesma. Esse é o paradigma a ser quebrado pelas famílias, escolas e professores. A partir desta quebra a educação formará homens e mulheres que primeiramente saibam se expressar, sejam capazes de tomar decisões, de arcar com responsabilidades e de serem felizes.
Não queremos mais uma escola na qual o aluno é treinado para fazer parte de um mundo de produtores calados e conformados. Não queremos uma escola que disciplina rigidamente, uniformiza no sentido mais amplo da palavra e que tenta anular diferenças. Não queremos mais esta escola que cala a alma de seus aprendizes para encaixá-los num sistema de vencedores e vencidos, opressores e oprimidos.
Para mudar o mundo precisamos rever nossos princípios e valores, perceber que a criatividade e a flexibilidade são práticas que urgem na vida deste novo cidadão, que conhece seus direitos, respeita os alheios e participa da construção de sua história social.
Cabe às famílias compreender esta evolução e encontrar e participar de escolas onde seus filhos sejam aceitos como aprendizes interessados e participativos, características que as crianças possuem naturalmente. Escolas que fomentem a curiosidade e a liberdade intelectual, e façam da vida escolar uma vida alegre e prazeirosa.
Cabe as instituições escolares a renovação de sua prática metodológica, numa quebra de muros para além do concreto. Cabe aos professores a certeza de que é a firmeza dos propósitos e o amor que asseguram a construção do mundo melhor.
por Regina Pundek