Que presente comprar para nossos filhos nos seus aniversários, na Páscoa, no dia das crianças ou no Natal? Aquele que eles desejam? O que necessitam? O que agradaria a mim como criança? O que eu acredito interessá-los nesta idade? O brinquedo da moda? O que cabe no meu bolso?
O que nós, pais e mães, desejamos realmente dar-lhes? O que queremos que eles entendam ou aprendam ao receber o presente? Vamos deixar-nos cair na malha acirrada que a mídia cria entorno do universo infantil e comprar o mais atual, mais caro e mais bonito? E assim garantir que nosso filho fará parte do grupo de consumidores infantis do condomínio e da escola?
São tantas as questões que podem surgir antes de uma tomada de decisão. Precisamos sim, levantá-las todas. É necessário refletir, questionar a compra de um simples presente, para que de fato, o presente seja simples. E venha imbuído de amor e significado. E assim sendo, cumpra seu papel como objeto de aprendizagem e diversão.
Até mesmo na escolha de um brinquedo os pais precisam exercer o seu papel de educadores. O objetivo do brinquedo é proporcionar brincadeiras, desafios próprios de cada idade, diversão. Não deveria ter relação alguma com status ou pertencimento social. Educar é uma arte. A difícil arte de criar uma pessoa íntegra. Faço minhas as palavras de Carlos Fregtman quando diz que “educar é desenvolver um sistema sensível, em harmonia com outros sistemas mais amplos que o contêm; é desenvolver um processo holístico de transformação, em sincronia com o grande processo da vida”
Inseridos que estamos numa sociedade na qual hoje a palavra cidadão é substituída cada vez mais pela palavra consumidor, temos que buscar fundo, em nossas almas, energia necessária para reagir. Iniciando por nossos hábitos individuais até atingirmos os de nossas famílias e posteriormente, quero acreditar, os da sociedade. Afinal, mesmo nós próprios, quantas vezes compramos o que não precisávamos, quantas vezes caímos na tentação, no impulso momentâneo da compra de um objeto totalmente desnecessário e chegamos em casa com a sensação estranha de termos sido enganados? … e tão vitoriosos nos sentimos quando conseguimos sair de um centro comercial abanando as mãos, livres da teia sedutora do mercado de consumo, dos vendedores, da sociedade que impõe que façamos parte do grupo que pode, que tem… e nem sempre é! Avaliar o contraponto existente entre a satisfação momentânea gerada pela adrenalina liberada no momento da compra e o bem estar duradouro pela aquisição, ou não, de algo necessário é hoje uma questão de maturidade, diria até de cidadania.
O marketing das empresas dedica atenção crescente às crianças cada vez mais jovens, pois as consideram a parte mais vulnerável das classes consumidoras. O poder de sedução das crianças aliado ao sentimento de culpa dos pais por sua grande carga horária de trabalho, ausente de casa, é utilizado pelos canais de comunicação que transformam produtos em grandes soluções psicológicas, passando a ilusão de que é preciso ter para demonstrar competência na constituição dos papeis familiares. É importante reconhecer que a responsabilidade por filhos obesos, consumidores vorazes, sexualmente precoces ou até mesmo com comportamentos violentos, não cabe somente às famílias. É preciso atribuir o peso também às empresas e agências de publicidade, que apostam no mercado infantil desenfreadamente, distorcendo valores e criando consumidores fiéis nas diversas faixas etárias.
Porém, os pais são desafiados quando ensinam aos filhos que o essencial é ser e não ter, já que estão sendo bombardeados pelo consumismo de todos os lados.
Afinal as lojas de brinquedos, os parques, as cores, as luzes atraem as crianças. Os pais devem oferecer orientações o quanto antes, esclarecendo que o importante é a personalidade do indivíduo, e não aquilo que ele consome. O ser humano tem uma grande necessidade de aceitação, de pertencer a um grupo, e o ato de consumir seria uma forma de inserção social, ou seja, para vivenciar este sentimento de pertença, seria “necessário” adquirir determinado brinquedo, certas marcas de tênis e roupas e até fazer alguns passeios que são interessantes para o seu grupo. Mas como fugir disto sem sentir-se um ET? A melhor resposta que encontro neste momento é encarar de frente que ser um ET pode ser um bom caminho para toda a mudança necessária. E a partir daí acreditar e praticar o respeito à diversidade!
Volto a afirmar mais uma vez a máxima de que os pais são os grandes modelos da vida de seus filhos. Não seria diferente na questão do consumo. Logo se os pais são consumistas, a possibilidade de ter um filho também consumista é grande. Porém, se forem econômicos, planejarem e investirem no que tem real importância para a família, conseguirão passar esses valores para seus filhos. Portanto, chegamos mais uma vez a conclusão de que o peso das relações familiares tem um grande significado na vida de cada indivíduo e conseqüentemente nos valores de nossa sociedade.
Com o excesso de consumo a vida passa a ter o valor dos entretenimentos, que são momentâneos e sempre exigem dinheiro, enquanto os relacionamentos podem ser permanentes e exigem “pessoas”. Precisamos aprender a temperar nossa existência com diversão e ética.
A informação é o primeiro passo para lutarmos por uma mudança de valores em nossa sociedade. Somente conhecendo as possibilidades, refletindo e tomando decisões é que conseguiremos tirar nossos filhos da frente das telas, da semi-hipnose e apatia, para que tenham uma alimentação saudável, pratiquem mais esportes, leiam e brinquem mais. E para calar a idéia de que brincar é perda de tempo, ressalto aqui que cada vez mais os pesquisadores e cientistas da educação reconhecem que o desenvolvimento da inteligência humana é amplamente estimulado pela brincadeira livre.
Somos livres. Precisamos exercer nossa liberdade. Encontrar nossas verdadeiras necessidades na tentativa de viver uma vida simples que transcenda às questões materiais.
Regina Pundek