Hoje no rádio do carro, enquanto eu vinha pro trabalho, tocou a Metamorfose Ambulante do Raul. Cantei alto, meus ímpetos pessoais estavam inteiros na canção. Me veio na cabeça a fala do Edgar Morin de que é melhor pensarmos em metamorfose do que em revolução, em se tratando das mudanças sociais que necessitamos. Dentro de mim senti a lagarta devoradora e gorda a se remexer. Eu sentia algo como um “Eita Raul, é nóis!”
Mas, não é nada simples elaborar conscientemente um plano de metamorfose pessoal ou social. A tal metamorfose que tanto citamos, da lagarta à borboleta, faz parte da natureza, do biorritmo, do tempo, do pulsar da vida. E, essa que o Edgar nos insufla demanda outras energias. Mas sabemos que o bom desafio não é o fácil e nem o impossível; o bom desafio é difícil e possível.
Assim como a lagarta que devora, se prepara e faz de si a própria mudança, entendo que devemos usar o antigo, nossas experiências e ferramentas para fazer casulos plenos de potencial, desejos de paz e harmonia. O tempo de casular é o tempo da reflexão e estruturação do novo para parir o belo, bom e justo. Depois da engorda o casulo. Depois da indignação, pesquisa e encontros, temos que planejar. O planejamento é o casulo. Nele afiamos as ferramentas, montamos as estratégias, discutimos, discordamos ou concordamos até que consigamos montar um plano de ação.
A educação, especificamente a escola, é dita ferramenta de mudanças. Dela se espera o chute inicial. Ela é lagarta! E temos que transformá-la numa lagarta inquieta e faminta, que reconhece a necessidade de mudar, que reconhece seu potencial e canaliza para a ação humana, coletiva e democrática.
É mais fácil pensar o projeto de uma nova sociedade do que levantar estratégias, ações e pessoas comprometidas com a limpeza e reelaboração disso tudo que está aí. É preciso resistir e construir o improvável, enfrentar a economia em crise, o crescimento da desigualdade, a proliferação de artefatos nucleares, a degradação da natureza e dos valores humanos.
Por outro lado, tem-se visto iniciativas importantes em alguns segmentos. No mundo da educação especialmente organizações distintas apontam projetos inovadores e criativos que indubitavelmente vão colaborar com a construção desse novo cenário social que esperamos. Voltamos a falar da nossa lagarta.
Mas há também iniciativas em outras áreas, outras lagartas, seja na agroecologia, na biologia, nas cooperativas, na economia social e solidária. Acredito que todas essas frentes de ação precisam confluir. Uma reforma tanto das estruturas como das pessoas vai gerar o casulo. Casular e metamorfosear é urgente!
Quero ainda propor que usemos o lindo vocábulo que ouvi pela primeira vez do poeta e educador André Gravatá, o verbo “ousadiar”! Uma palavra já metamorfoseada, não é mesmo?!
Nosso sistema está cada dia mais incapaz de tratar questões vitais, está se desintegrando, tornando-se bárbaro. Ousadiando, criaremos um metassistema, que reciclará velhos projetos, criaremos uma sociedade que não se pode prever, e que ultrapassará expectativas com a noção na tomada dessa consciência.
Amigos, ousadiemos uma metamorfose sem medo, pois a história está escrevendo um capítulo cheio de indigestões e desespero.
Regina Pundek