Fazer parte da primeira turma do Ensino Fundamental na nossa escola, é somar à maré de mudanças e transformações que a proposta pedagógica propõe. Não são mudanças que se referem somente às práticas de ensinagem e aprendizagem, mas são mudanças que se solidificam na construção de sujeitos autores de uma história que pretende contribuir para o todo, ou seja, para o sujeito, para a comunidade escolar, para o bairro, cidade, país, planeta. Quanta pretensão temos nós! De fato! Ampliar olhares e questionamentos, diversificar possibilidades e formas de atuar, reconhecer necessidades além das do próprio corpo e dos nossos muros! Agir!
As assembleias para o Ensino Fundamental têm o objetivo de fazer com que as crianças tragam seus questionamentos, reflexões, insatisfações e desejos para a pauta e, que compreendam a importância do consenso para que as resoluções sejam a contento da maioria. Nem sempre são bem-vindas, pois as crianças tendem à rapidez, por acreditarem que são conversas que as privam do livre brincar. Porque também nós, adultos, acreditamos na importância do brincar, formalizamos um tempo para as assembleias, às sextas feiras. Isso não significa que as questões urgentes não possam ser discutidas no decorrer da semana.
Na primeira assembleia do ano uma das pautas colocada por nós, professores, eram as comemorações dos aniversários das crianças, especialmente aquelas que acontecem aqui na escola. Nossa intenção era que as crianças percebessem o real valor desse dia em suas vidas e na vida de seus amigos e, também desejávamos desconstruir a necessidade de gastar dinheiro para agradar alguém.
Não foi difícil que as crianças concordassem com a ideia nova que propúnhamos, mas eles precisavam pensar como faríamos. O que mudaríamos para que as comemorações dos aniversários fossem ainda mais bacanas? Ficou decidido manter o bolo, e preferencialmente, feito em casa pela família do aniversariante. As mudanças feitas foram simples e profundas. A partir de então, o aniversariante ganha um presente feito pelos amigos na escola e, ganha também, num momento de quintal, todos juntos em sua brincadeira preferida!
Esses presentes são surpresas para o aniversariante, tanto o objeto como a brincadeira. Cabe aos amigos pensar bastante quem é o aniversariante, como ele é, do que gosta. As conversas revelam como as crianças têm percepção um do outro! Depois disso buscam respostas para o que fazer e qual a brincadeira preferida dele.
Quando estamos pensando no objeto que vamos juntos produzir surgem as questões: Faremos algo de brincar, um adereço ou algo para o estudo? Como dar a oportunidade para todos participem da produção dos presentes?
O primeiro aniversário foi o da Valentina, que sempre vinha à escola com muitos adereços. Cada amigo produziu uma peça de um lindo colar bem colorido. Sua brincadeira preferida, segundo as crianças é esconde-esconde.
Logo em seguida, foi a vez do Enzo, menino cativante que acabou de chegar em nosso grupo. Então, a ideia foi de que cada criança escreveria seu nome e telefone em uma pequena folha para formarmos uma agenda telefônica. Assim, ele teria o contato de todos os amigos. E sua brincadeira escolhida foi a de poções mágicas com materiais da natureza.
Depois, veio o aniversário da Maria Valentina. Uma menininha que passa boa parte de seu tempo livre desenhando. Fizemos em conjunto um bloco de anotações e desenhos, com muitas folhas com as bordas enfeitadas pelas crianças. E a brincadeira escolhida foi a Mãe da Rua, que consiste em desenhar com giz duas riscas paralelas com uma distância de cerca de um metro e meio na quadra. O lado de dentro das riscas é a rua e o lado de fora, as calçadas. A mãe da rua (o pegador), fica posicionado na parte de dentro das riscas e deverá tentar pegar aqueles que atravessarem para o outro lado. É uma brincadeira que requer agilidade e rapidez, o que todos afirmam que a Maria tem.
No aniversário da Sofia, pensamos em lhe dar um livro com a história do Lobisomem, pois é sabido o quanto ela aprecia a leitura de uma boa história. Cada um ficou responsável por uma página do livro e seu amigo desenhou a capa. A brincadeira escolhida foi a queimada, pois a Sofia se diverte criando estratégias próprias para o seu time ganhar.
Sabemos que o Bruno aprecia muito os momentos com seus amigos, então seu presente só poderia ser um porta-retratos com a foto de toda a turma junta. Cada um pintou uma pequena parte do porta-retratos, que o deixou ainda mais especial. Sua brincadeira foi a queimada também.
A Martina, menina querida, que se preocupa com os amigos. Seu presente foi um móbile de feltro com corações pendurados, que cada criança enfeitou, colocou enchimento e costurou. A brincadeira escolhida foi polícia e ladrão que ela amou, segundo as crianças.
Para o João pensamos em fazer um jogo chamado Mico, onde a Chita é o Mico e mais 11 pares de animais africanos, pois o aniversariante tem paixão por animais. Houve um impasse na escolha da brincadeira, porque ele gosta de jogar bola, mas também gosta de fazer poções quando está na casa de seus amigos. Por fim, decidimos em votação brincar de poção, por ser uma brincadeira não tão frequente quanto o futebol.
Vou contar um segredo: quando fizemos o presente da Valentina, o Alê confidenciou que acharia bacana ganhar um móbile e minha primeira ideia é que o tema seria animais do mar, mas no momento de confeccionar, cada criança tinha uma ideia do tema que ele gostaria. Então, fizemos um móbile com planetas, alienígenas, pingentes, estrelas entre outras coisas. A brincadeira escolhida foi a pique-bandeira.
Com o tempo, pensar no presente tem ficado mais fácil a medida que nosso conhecimento sobre a criança aumenta. É gratificante ver a plena dedicação de cada um ao fazer o presente de um amigo, seja ele quem for.
A valorização da Vida, do dia do nascimento e a percepção de quem é aquele amigo foi ampliada por essa nova forma de presentear. Estamos muito contentes com a mudança feita!
Que venham outras, significativas!
Abraços,
Mônica e Regina
junho de 2018