Você já pensou se pudesse voltar no tempo, voltar a ser criança e ter a oportunidade de viver em um quintal cheio de crianças e possibilidades?
Já pensou em aprender através das brincadeiras e da exploração da Natureza?
Já pensou em levar para escola assuntos dos mais diversos e perceber que, além de ser ouvido, todos se reúnem e, compartilhando da sua curiosidade, refletem, levantam hipóteses e pesquisam juntos em busca de respostas?
Já pensou em brincar até que alguém lhe diga que é hora do lanche e, nesse momento, poder se saciar com um lanchinho especial ao lado de seus amigos?
Pois é, parece um sonho, não é mesmo? A maior parte de nós não teve o prazer de viver tudo isso na infância.
Em contrapartida, vocês sabem, mesmo que seja “apenas” no campo das emoções, que essas vivências são importantes nas vidas de seus filhos, ou não teriam escolhido a Maré rsrs. Então, nossa intenção ao escrever esse relato, é trazer de maneira mais clara pra vocês o brincar, como objeto/ferramenta de aprendizagem.
Como sabemos, a Educação Infantil é a porta de entrada para vida escolar. Já dizia José Pacheco, grande educador português, a Educação Infantil é tão importante na formação dos educandos que, ela sim, deveria ser chamada de Ensino Superior. Não há fase na vida em que o ser humano aprenda tanto.
Nesse período a criança desenvolve habilidades cognitivas, emocionais, intelectuais, sociais… Enfim, é a época em que os alicerces são construídos. Ao pensarmos o que uma criança dessa fase precisa aprender, elencamos três pilares: as regras de convívio social, e isso só se aprende convivendo, um aguçar da curiosidade científica e que descubram o prazer em aprender. Que nunca tenham etapas puladas ou aceleradas, que possam ser CRIANÇAS, em toda sua essência.
Aqui na Maré, o conhecimento é trabalhado de forma respeitosa e prazerosa, o brincar livre, mediado pelos professores, dá autonomia à criança, explorando os elementos naturais, terra, água, fogo e ar, fornecendo-lhes materiais e suporte que irão potencializar a forma de aprender. Através do brincar a criança aprende muito, não só conhecimentos populares, mas também os científicos.
Pensamos aqui em uma amarelinha. Você sabe o que aprendemos ao pular amarelinha?
Aqui a criança desenvolve noções espaciais e corporais, ela precisa pular de um pé só, às vezes na direita, outras na esquerda, mantendo o equilíbrio. Precisa calcular o pulo para que não pise na linha e nem fora do quadrado. Falando em quadrado, já estamos falando de formas geométricas, geometria. Então vamos falar de matemática, sequência numérica também faz parte dessa brincadeira. Ah, e olha o exercício para calcular espaço, força e velocidade para acertar a pedrinha no quadrado X. Antes tem que jogar a pedrinha; durante, tem que pular o número onde está a pedra e; depois, na volta, tem que recolher a pedra, mais um conceito matemático, noções temporais, sequência lógica. Com o passar do tempo, as crianças reconhecem os algarismos. Quantas coisa que, através de uma simples brincadeira, podemos trabalhar de forma lúdica e prazerosa.
Você já pensou em ensinar química para seu filho que acabou de começar a andar? Pois é, aqui na Maré, ensinamos isso, que loucura né? É que aqui brincamos com a natureza, que é química pura. Por exemplo, quando comem a banana no lanche, as cascas que sobram vão pra composteira e, sabe o que acontece lá? Uma transformação química! Ela muda de cor, muda sua textura, fica com cheiro diferente e, de repente, já nem conseguimos saber que ali tinha várias cascas de banana.
Mas, não podemos deixar de citar que, antes de irem para a composteira, as cascas são materiais de lindas obras de arte, de pura experimentação e exploração. São caminhos que percorrem a mesa, encontrando e interligando os amigos.
E quando a criança pega um pote cheio de água, leva para o tanque de areia e, calmamente, vai jogando areia lá dentro e observando? Ela passa horas ali, vai enchendo o pote de areia e, de repente, a areia já ocupou todo o espaço do pote, uma transformação física.
Quando durante uma brincadeira falamos: mãos na cabeça, mãos nos pés, mão no nariz… sabe qual “matéria” estamos trabalhando? Biologia, estrutura do ser humano.
Para brincar, precisa ser criativo, ceder as regras criadas entre os envolvidos, garantir que seus “direitos” sejam respeitados, tem que se comunicar, interpretar a brincadeira e a dinâmica.
Poderia passar horas citando exemplos. Se assim tivéssemos aprendido, talvez hoje teríamos mais lembranças sobre esses conceitos, sobre nossa infância, sobre nossa vida escolar. São essas aprendizagens, as significativas, que ficam, que nos acompanham ao longo da vida.
O corpo de uma criança saudável se movimenta, mexe e remexe, pula, balança. A criança não tem preguiça, ela quer correr, desafiar. Pena que a vida adulta vai chegando e desconfigurando a nossa essência. Que nossas crianças possam permanecer assim por toda a vida. Que adentrem a vida adulta, no tempo certo, com leveza, com valores, com entrega.
Nós adultos devemos aprender com as crianças, viver a fantasia de acreditar que a lama é uma sopa quentinha e saborosa; acreditar que consegue escalar o topo mais alto da árvore, mesmo que no primeiro galho sinta medo; correr, cair e levantar, sem sentir vergonha ou medo de julgamentos; dizer, sem hipocrisia ao melhor amigo, que não gostou do que ele fez e, em um segundo depois estar brincando novamente sem mágoa, rancor ou qualquer outro sentimento ruim.
Que esse texto seja uma porta pra revisitar a sua infância e um convite para vir revivê-la com seu filho no quintal da Maré!
Abraços cheios de carinho,
Tabata Perin e Cátia Pacicco